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Dúvidas sobre deslocamento imprevisto de exoplaneta

À medida que astrônomos continuam acumulando descobertas de exoplanetas às dezenas, o status preciso de apenas um deles não parece ser algo com o que se preocupar. Mas Fomalhaut b é diferente.
O pequeno ponto encontrado em 2008 orbitando Fomalhaut, a estrela que fica a apenas 7,7 parsecs (ou 25,11 anos-luz) do nosso sistema solar, foi anunciado como o primeiro exoplaneta a ser observado diretamente por comprimentos de onda ópticos. Porém, a identidade do planeta vem sendo questionada após a conferência sobre exoplanetas ocorrida no Parque Nacional de Grand Teton, em Wyoming, na qual foram apresentados dados mostrando que ele se moveu de forma inesperada.



Até agora, o Fomalhaut b possuía todas as características de um exoplaneta ideal. Duas imagens do Telescópio Espacial Hubble, de 2004 e 2005, foram usadas para mostrar o planeta seguindo uma órbita regular dentro do anel luminoso de poeira que circunda Fomalhaut. Deduziu-se que a gravidade do planeta o ajudava a afastar a poeira que estava mais próxima do que o anel, o que lhe fornecia uma margem interna distinta.

Segundo Paul Kalas, astrônomo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e principal autor do estudo de 2008, a última imagem mostra a orbita dele passando pelo disco de poeira. Essa imagem fez Ray Jayawardhana, astrônomo da Universidade de Toronto, no Canadá, questionar a existência do planeta.

Em trajetórias como essa, a influência gravitacional do planeta teria desorganizado anteriormente o disco claramente delineado. ''Está bastante evidente que a história original não pode ser mantida’', afirma Jayawardhana.

Incitando controvérsia Kalas reconhece que o último ponto de dados é surpreendente, mas afirma permanecer confiante de que Fomalhaut b é um planeta. ''Há um cientista tentando criar controvérsia do nada’', afirma. Centenas de exoplanetas foram descobertos indiretamente por meio da medição de seu efeito gravitacional sobre as estrelas que orbitam ou pelo registro de alterações no brilho conforme eles passam em frente a elas. Somente alguns poucos foram fotografados diretamente. Aos astrônomos afortunados que conseguiram capturar um desses planetas foi concedido o direito de se gabar, mas junto com ele veio maledicência. O Fomalhaut b é um exoplaneta conhecido como diferente em relação aos outros. Ele brilha demais sob a luz visível para um corpo que se espera ser apenas algumas vezes maior do que Júpiter. Além disso, observações por infravermelho subsequentes feitas da Terra não deram resultado, embora ele pertença a um conjunto de planetas jovens e quentes que supostamente são mais brilhantes.

Segundo Kalas, uma explicação possível consideraria que o sistema Fomalhaut é mais antigo do que se acreditava e, por isso, mais frio e de brilho menos intenso no infravermelho. Além disso, ele afirma ser possível compreender o brilho ótico excessivo de um planeta quando ele está rodeado de material luminoso – como é o caso de Saturno, rodeado por um sistema de anéis – que pode aumentar de modo geral sua refletividade.

Segundo Jayawardhana, somente essa informação deve retirar Fomalhaut b da lista de planetas fotografados diretamente, porque a luz talvez tenha origem na poeira e não na superfície do planeta. ''Eles ainda o chamam de planeta retratado diretamente’', afirma. ''Eu acredito que seja o momento de parar de afirmar isso’', afirma.

Os novos pontos de dados e a provável órbita que passa pelo disco, aumentam o mistério. Segundo Kalas, pode ter ocorrido um problema com a última imagem. As fotos de 2004 e 2006 foram tiradas com o uso de um canal de alta resolução da Câmera Avançada de Pesquisas do Hubble, que fracassou em 2007 e não foi restaurado quando a câmera voltou a funcionar em 2009.

Para fazer a última imagem, Kalas precisou recorrer a outro instrumento do Hubble, o espectrógrafo de imagens do telescópio espacial (STIS). Segundo Kalas, a mudança de detector talvez explique o ligeiro desvio do planeta da posição esperada. Ele determinou uma ocasião para tirar outra foto com o mesmo instrumento em meados do ano que vem. Se o movimento imprevisto persistir, ainda é possível explicar porque o disco em volta da estrela fica inalterado, afirma. Talvez a sua equipe esteja observando o planeta justamente quando algum tipo de instabilidade dinâmica do sistema estelar o esteja removendo de sua trajetória. Disputa de palavras Christian Marois, do Instituto Herzberg de Astrofísica, em Victoria, no Canadá, não gosta dos argumentos que dependam de coincidências. Com um período orbital de aproximadamente 800 anos, o Fomalhaut b precisaria ter mudado de rota há bem pouco tempo.

Segundo Marois, é bem mais provável que Kalas esteja adaptando a sua análise ao instrumento diferente do Hubble e que a órbita original irá permanecer.

De qualquer modo, o fato de Kalas ter localizado o Fomalhuat b em 2010 é ''outra confirmação de que ele é real’', afirma.

Jean Schneider, astrônomo do Observatório de Paris, que mantém a base de dados do site exoplanet.eu, afirma que o Fomalhaut b permanecerá na lista.
Contudo, ele adicionou um comentário ao registro do planeta no dia 22 de setembro dizendo que dúvidas apareceram.
Kalas enviou um e-mail a Schneider afirmando que, para ser escrupulosamente justo, ele deveria mencionar também a existência de dúvidas em relação ao planeta 1RXJ1609, fotografado diretamente com ondas de infravermelho.

Descoberto por Jayawardhana junto com outros cientistas, ele foi anunciado em 2008, alguns meses antes da descoberta de Fomalhaut b.

Essa disputa tem todas as características de um confronte entre rivais celestial: Jayawardhana sugere que a concorrência feroz entre profissionais e os holofotes da mídia podem estimular a cobiça por planetas, o que faz com os astrônomos engrandeçam nas descobertas. Kalas lembra que foi ele quem criou o termo 'cobiça por planetas’ em um artigo publicado na revista Science em 1998, no qual ele critica Jayawardhana por reivindicações desproporcionais da observação de planetas em seu processo de formação.
De sua parte, Fomalhaut b parece saber o que está fazendo, mesmo que ninguém mais saiba.

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