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Mercúrio se revela um planeta muito estranho nas fotografias

A principal divulgação de resultados da sonda Messenger da Nasa, em órbita em torno do planeta Mercúrio desde março, vem obrigando os pesquisadores a reconsiderar algumas das principais teorias sobre a natureza e a história do planeta do Sistema Solar que está mais próximo do Sol.
As descobertas, publicadas na revista Science, mostram um tipo de relevo antes desconhecido e evidências da presença de elementos voláteis, que a maioria dos pesquisadores acreditava terem se desintegrado há muito tempo devido ao calor. Além desse, outros cinco relatórios descrevem a paisagem do planeta, a química de superfície e o campo magnético.


Para o pesquisador da Messenger e geólogo planetário David Blewett, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Laurel, Maryland, a mensagem final dessas descobertas é clara: ''Mercúrio é bizarro, bem como tudo que se relaciona a ele. Não sabemos de que rocha ele é formado nem sua cor, e os elementos voláteis não se esgotaram como todos pensavam’'.

Ao examinar as imagens de mais alta resolução já realizadas pela sonda, Blewett e sua equipe descobriram depressões distribuídas pela superfície do terreno, paredes e picos centrais de crateras no hemisfério norte do planeta. Essas fendas de formato irregular são diferentes das formações conhecidas dos cientistas. Elas variam de dezenas de metros a poucos quilômetros de diâmetro e parecem bastante recentes para terem sido modificadas por impactos de meteoritos ocorridos ao longo da história do astro.

As formações não parecem ser o resultado de erupções vulcânicas, afirma Blewett. Contudo, elas parecem um pouco com a formação rochosa que lembra um 'queijo suíço’ da região polar do sul do planeta Marte. Nessa área o aquecimento solar causa a sublimação, ou alteração direta do estado sólido para o gasoso, das camadas de gelo de dióxido de carbono, e as partículas de materiais aderidos a ela são levadas da superfície no processo.

Por analogia, Blewett e sua equipe propõem que as temperaturas sob a superfície do planeta devam ser frias o bastante para manter estáveis alguns elementos voláteis. Contudo, a força dos fragmentos que atingem o planeta seria suficiente para liberar esses elementos, formando fendas na área ao redor do impacto nesse processo, afirma Blewett. ''As fendas são realmente um enigma. Eu acredito que a principal explicação seja o processo de sublimação’', afirma David Rothery, cientista planetário da Universidade Aberta em Milton Keynes, Reino Unido.

Os pesquisadores estimam que para que fosse removido nesse processo um centímetro de superfície da bacia Raditladi, que fica ao norte, seriam necessários de 70 a 200 mil anos, o que sugere que as fendas dessa região levaram bilhões de anos para se formar.

Caráter volátil

Contudo, como o pequeno planeta abrasado pelo Sol e o menor do Sistema Solar pode reter um estoque substancial de materiais que escapariam com tamanha facilidade da superfície? A maioria dos modelos que pretendem explicar o imenso núcleo formado por ferro do planeta – cuja proporção em relação ao restante de seu volume é bem maior do que a de qualquer outro planeta telúrico – precisam que ele tenha sido exposto ao calor abrasador no início de sua existência.

Tais modelos iniciam com um Mercúrio cujo tamanho é bem parecido com o da Terra, e com crosta e manto bem mais espessos do que os que ele possui atualmente. Os modelos propõem que um grande impacto partiu a maior parte do material rochoso logo após a formação do planeta e que o Sol jovem em um período de aquecimento intenso derreteu as camadas exteriores como se fosse um maçarico.

Contudo, as últimas observações da Messenger sugerem que nenhum destes cenários está correto. Os resultados da espectroscopia de raios-X realizada pela sonda sugerem que a quantidade de enxofre presente na superfície do planeta é no mínimo dez vezes maior do que a encontrada no manto da Terra. Entretanto, os resultados da espectroscopia de raios gama mostram que a razão entre as quantidades de potássio e tório da superfície de Mercúrio se assemelha àquela de outros planetas telúricos. Os dois resultados sugerem que o planeta não esteve exposto ao calor intenso no passado e talvez tenha se formado com o manto pouco espesso observado atualmente.

''Estamos afirmando agora que todas essas teorias incomuns que foram propostas para explicar a formação de Mercúrio não se concretizaram’', afirma Patrick Peplowski, do laboratório, condutor do estudo que realizou a espectroscopia de raios gama.

Isso faz com que a formação de Mercúrio e de seu enorme núcleo formado de ferro continue sendo um enigma. Alguns teóricos propuseram que a mistura de materiais que se aglutinaram para formar o planeta – provenientes do disco de gás e poeira que circundava o Sol – era rico em ferro. Contudo, por que os outros planetas telúricos do Sistema Solar não possuem a mesma composição ainda não está claro.

Perguntas como essas são de grande importância, afirma Blewett. Mercúrio é o planeta que comparativamente mais se assemelha aos exoplanetas rochosos do Sistema Solar orbitando muito próximos de suas estrelas. ''Não é possível dizer que entendemos de fato como esses planetas se formam até descobrirmos o que ocorreu com Mercúrio’', afirma.

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